APDCA – Com 20 anos de experiência no setor de automóveis usados, consegue identificar as maiores dificuldades que enfrentou neste período de pandemia?
PR – De facto a PR Car abriu as portas em 2001 e, tirando as dificuldades naturais de quem abre uma empresa, nunca tínhamos passado por um período tão complicado. Além dos constantes avanços e recuos, confinamentos e desconfinamentos, abre e fecha portas, fomos confrontados com alguns problemas
logísticos (transportes e adaptação às novas regras) e, acima de tudo, com a falta de stock.
Baseámos o nosso público-alvo no segmento médio e médio-alto e ainda tivemos de baixar o tipo de viatura/cliente durante alguns períodos mais críticos da crise pandémica, mas, felizmente, já voltámos ao nosso segmento habitual.
O problema é mesmo a falta de automóveis usados para vender.
O número de unidades trazidas pelos clientes particulares é quase residual e dependemos muito das gestoras de frotas e, em parte, dos rent a car para termos um fluxo constante de viaturas. Como estes não renovaram stocks e não compraram automóveis novos, estamos com uma escassez enorme de usados para
vender.
APDCA – E qual foi a solução escolhida?
PR – Estamos a ir buscar muitos automóveis lá fora, mas
mesmo nos restantes mercados da Europa esta escassez de usados já começa a
fazer-se sentir. Acredito que nos próximos 3 anos este problema continue a
assombrar-nos. Até porque, por variadas razões (incluindo a crise dos
semi-condutores), não se vendem tantos automóveis novos como seria desejável. Aos
poucos acreditamos que a situação se vá regularizando, mas não há uma solução
milagrosa que normalize tudo novamente em meia dúzia de meses.
APDCA – É associado da APDCA desde quando? E como analisa o papel da Associação neste contexto da pandemia?
PR – Sou associado desde o primeiro minuto e orgulho-me de ser um dos fundadores da Associação que, na minha opinião, está a fazer um trabalho muito meritório. Em especial na informação que presta aos associados em questões tão simples como os horários de abertura e fecho de portas durante
os desconfinamentos ou na evolução da legislação aplicável aos diferentes momentos que atravessámos. Mais, até na forma como acompanharam de forma atenta as constantes alterações impostas ao setor no âmbito desta pandemia. E se não fosse através do email ou das redes sociais, bastava um telefonema e de
imediato ficávamos esclarecidos.
APDCA – Fora deste período tão conturbado que atravessámos (e ainda atravessamos) que outras mais valias encontra na APDCA.
PR – Antes da pandemia, já por várias vezes tirei partido das formações que foram organizadas pela Associação. Uma das vantagens de estar associado é que os preços das mesmas são muito mais competitivos do que se quisesse estar presente individualmente ou a título pessoal. Esta confluência de interesses e o número acrescido de participantes permite que os preços das formações sejam mais baixos. Além do mais, as mesmas são, naturalmente, muito mais direcionadas para os problemas ou as temáticas especificas do setor dos automóveis usados, o que acaba por ser outra importante mais valia.
APDCA – Que temas gostaria que a APDCA continuasse a debater ou que gostaria de ver discutidos no âmbito da atuação da Associação?
PR – Os temas recorrentes são os mesmo de sempre. Cabe na cabeça de alguém que se pague IVA sobre o ISV? Ou que um particular possa ir dez vezes por ano ao estrangeiro comprar um automóvel e não ser obrigado a pagar nenhum imposto. Eu sei que é difícil controlar este tipo de situações,
até porque há sempre um tio, um primo, um sobrinho ou um irmão que pode dar a “cara” pelo negócio, mas com o cruzamento de dados que hoje em dia já é possível, já não é impossível combater esta forma escandalosa de concorrência desleal. Porque é que as finanças não andam mais em cima destes “particulares”
como andam em cima dos empresários honestos que declaram tudo e pagam todos os impostos que lhes são devidos?
Eu sei que este processo pode demorar tempo, mas se não tentarmos, se não insistirmos, nunca vamos conseguir e acho que a APDCA tem de continuar a batalhar por uma maior consciencialização para os problemas do setor e para a necessidade de as regras mudarem a fim de promoverem uma maior justiça e igualdade.