APDCA – Há quanto tempo está no setor do comércio de automóveis usados e desde quando é que é associado da APDCA?
Rúben Moura – Trabalho no setor há 27 anos e a Cardouro foi criada em 2015. Conheço a APDCA quase desde a sua formação. Foi um colega que me alertou para a criação da Associação e resolvi tornar-me associado assim que pude.
APDCA – Que vantagens vê na Associação e quais são os problemas que identifica como sendo os de resolução mais premente?
Rúben Moura – A principal vantagem é, quanto a mim, o apoio direto que dão ao associado. Basta ligar ou enviar um email e, caso não saibam responder com exatidão, fazem de imediato a ponte com o apoio jurídico ou contabilístico. Esta interação humana tem sido fundamental para a minha manutenção como associado.
Em relação aos problemas, o mais fácil de identificar e o que está a fazer perigar a existência de uma série de empresários como eu é a falta de regulamentação no setor. Já viram que se o merceeiro ou o homem do talho decidir, a título particular, começar a comprar uns carritos para vender aos amigos e clientes do seu estabelecimento, não tem nenhum dos custos associados a ter uma porta aberta e um negócio sério, credível e dentro da lei? Não têm de declarar nada, de lidar com Centros de Arbitragem, com as exigências legais da ASAE, com garantias… Nem sequer precisam de pagar impostos pela transação. Honestamente, dá vontade de fechar portas. Como é que posso concorrer com uma “pessoa” que não tem milhares de euros de custos fixos mensais? Como é que posso praticar os mesmos preços se eles conseguem margens muito maiores, mesmo vendendo mais barato? O Governo tem noção de que perde milhões em impostos e que poderá estar a lançar no desemprego milhares de pessoas, entre empresários e colaboradores, se as empresas do setor não conseguirem manter a atividade? É desesperante tentar fazer as coisas dentro da lei e respeitando os direitos dos consumidores quando, na “porta” ao lado, alguém tem exatamente a mesma atividade, mas sem os custos a ela associados. É que isto não são barras de ouro, são automóveis que, estando parados, vão desvalorizando e acumulando custos com inspeções obrigatórias e IUC.
Corremos o risco de tornar um negócio vantajoso numa aposta ruinosa.
APDCA – De que forma a APDCA poderá ajudar na resolução dos problemas e que medidas deveríamos assumir?
Rúben Moura – A APDCA pode, e deve, ter um papel preponderante na criação de pontes com quem toma as decisões e, em última análise, tem o poder de legislar. Acredito que o diálogo pode ser uma virtude, mas também já começo a pensar que talvez esteja na altura de endurecer a luta. As propostas que temos feito protegem os interesses de todos, desde os empresários do setor aos consumidores, passando pelos contribuintes e até o erário público. Não consigo perceber esta falta de visão política ou os entraves que se colocam à aprovação de regulamentação que só traria vantagens para quem opera dentro da lei. Se o diálogo não resultar, acho que a nossa posição, a posição da APDCA em representação dos seus associados e do setor em geral, terá de ser mais firme. Temos de fazer valer a força do associativismo e mostrar que uma economia saudável e em crescimento precisa de empresários motivados e cientes das regras, mas que estas sejam claras e, acima de tudo, equitativas para todos os que operam nesta área de atividade.