Entrevista a Paulo Ferreira – Auto Provaganha

APDCA – Com mais de 13 anos de experiência no setor do Comércio de Automóveis Usados, como é que teve conhecimento da APDCA e quando é que se tornou nosso associado?

Paulo Ferreira – A Auto Provaganha abriu portas em abril de 2007, mas desde logo sentimos necessidade de uma associação que nos representasse, falasse a uma só voz e ganhasse peso político e institucional para fazer ouvir as nossas reivindicações para setor. Logo após a criação da APDCA ouvi falar na Associação através de um colega e amigo de profissão e decidi abraçar esta causa e tornar-me associado. Afinal, se não começarmos nunca vamos a lado nenhum e julgo que é inegável que esta foi uma “aposta” ganha. Aos poucos a APDCA vai cimentando a sua posição na representação do setor e vai ganhando o peso institucional que todos almejámos, até porque esta é a única maneira (todos unidos em torno de uma causa) de levarmos a água ao moinho e de conseguirmos que os decisores políticos conheçam e percebam as dificuldades que os players do setor atravessam.

APDCA – E quais são as dificuldades que mais se têm feito sentir e acha que tenderão a agudizar-se?

Paulo Ferreira – A burocracia é um obstáculo que, julgo, todos enfrentamos. Tanto a burocracia no setor “Estado” como nos próprios bancos e nas financeiras. Processos e documentos que demoravam dois dias a serem obtidos ou concluídos, chegam a demorar semanas. Já para não falar que é quase impossível agendar marcações para tratar de papelada em tempo útil ou obter respostas num curto espaço de tempo. 

A falta de informação é outro problema. A questão das moratórias é um bom exemplo disso mesmo. Muitos clientes não foram devidamente informados sobre o que estava em causa e as repercussões que as moratórias iriam ter no acesso ao crédito. Só se falou no “alivio” que seria estar uns meses sem pagar o crédito do carro ou da casa e, de facto, para muitas empresas e famílias foi uma boia de salvação, mas muitos aderiram só porque sim… Resultado, mesmo os clientes que sempre foram bons pagadores e até têm alguma capacidade financeira agora têm dificuldade em aceder ao crédito porque aderiram às moratórias, ainda que já não usufruam delas. O lay-off também prejudicou muita gente que, ao estar abrangida por esse regime, ficou excluída do acesso ao crédito. Resta saber se não andamos a empurrar o problema com a “barriga” e a adiarmos uma situação mais grave. Quando acabarem as moratórias como é que ficarão as famílias e muitas empresas? Quando tiverem de pagar novamente os empréstimos como é que se vão governar? Esperemos que até lá se resolva a questão da pandemia e saibamos dar a volta à economia.

APDCA – Já tirou alguma vez tirou partido dos serviços e protocolos que a APDCA coloca torna acessíveis aos seus associados.

A APDCA foi crucial para me orientar e indicar o caminho a seguir.
Quando se começaram a falar nos intermediários de crédito, muitos de nós, eu incluído, ficámos um pouco perdidos (…)

Paulo Ferreira – Já e foram muitos úteis na resolução de um problema. Quando se começaram a falar nos intermediários de crédito, muitos de nós, eu incluído, ficámos um pouco perdidos perante a imensidão de papeis e os passos a dar para concluir com sucesso o processo. A APDCA foi crucial para me orientar e indicar o caminho a seguir. Inclusivamente, disponibilizaram o apoio jurídico que acabou por se revelar essencial para interpretar os procedimentos legais e o que fazer para não incorrer em nenhum risco. 

APDCA – Temos ouvido repetidamente por parte dos nossos associados que a questão do IUC dos automóveis em stock é uma “batalha” que a APDCA tem de continuar a travar. Há alguma outra questão que gostaria de ver abordada pela Associação junto dos decisores políticos ou outros?

Paulo Ferreira – A questão do IUC é incontornável. É insustentável continuar a despender mensalmente entre 1500 e 2000€ para pagar um Imposto de Circulação de um automóvel que não é utilizado e que está parado nas nossas instalações com o intuito de ser vendido. E se há veículos que se vendem muito rapidamente, também pode haver um ou outro que demore mais tempo e é um encargo acrescido que se vem juntar a todos os outros que um empresário sério e cumpridor tem de assegurar. O que nos leva à “velha” questão da concorrência desleal dos falsos particulares. Qualquer português deve ser livre de ir a um qualquer país adquirir um automóvel para seu uso privado, isso nem sequer se coloca em questão. Mas continuamos a assistir a “particulares” que vão ao estrangeiro adquirir um, dois, três ou até mais carros, e depois os vendem com uma acrescida margem de lucro ou com um preço muito mais competitivo. Se for uma empresa séria e idónea a fazer a dita importação, além de todos os encargos normais ainda temos de pagar IVA sobre o ISV o que encarece logo o automóvel e nos coloca em desvantagem competitiva perante um “particular” que não é obrigado a pagar nada disto. 

APDCA – Na sua opinião, como é que conseguiríamos mitigar este problema?

Paulo Ferreira – Uma solução relativamente fácil de pôr em prática era obrigar os particulares a manterem a posse do automóvel importado durante, pelo menos, um ano. Isto iria dissuadir os ditos particulares/empresários de viverem deste tipo de negócio, já que durante este período de tempo não poderiam rentabilizar o investimento e ainda teriam de arcar com as despesas da manutenção e com a natural desvalorização do veículo. Assim haja vontade política para o fazer, até porque isto seria mais justo para todos, a começar por todos nós contribuintes que seria menos um buraco para tapar resultante de uma fuga ao fisco.